Pesquise aqui

domingo, 29 de abril de 2012

O Brasil não é nosso. É de Sarney e Mailson

São conhecidos os defeitos do atual senador Fernando Collor (PTB-AL), mas é preciso admitir que nenhum outro presidente, desde o restabelecimento das eleições presidenciais diretas, recebeu uma herança tão pesada quanto a que o seu antecessor, José Sarney, lhe legou, em março de 1989.

Juntos, Sarney e seu último ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, levaram o país ao fundo do fundo do poço. Inflação de mais de 72% ao mês. Dívida pública, desemprego e miséria em forte alta. Produtividade, esperança e autoestima totalmente em baixa.

Tão simpático quanto falante, Mailson era objeto de infinita condescendência por parte da imprensa, dos empresários e analistas financeiros. Funcionário de carreira do Banco do Brasil e com longa vivência na administração federal, Mailson era um bom burocrata, nada além disso. Jamais foi um grande conhecedor de economia, área em que se graduou num modesto curso noturno em Brasília. Nem tinha a credibilidade necessária – como faria Fernando Henrique em 1993, no governo Itamar Franco – para recrutar os melhores economistas nacionais em torno da missão, então considerada impossível, de vencer a inflação.

Embora fosse um homem com credenciais muito aquém das necessárias para lidar com o cenário de hiperinflação e baixo crescimento econômico então existente, a torcida em seu favor era próxima da unanimidade. Tratava-se, afinal, de minimizar os estragos do desastre a que se assistia ao vivo e a cores.

Àquela altura, Sarney, desgastado por denúncias de corrupção e sucessivas demonstrações de incompetência administrativa, não encontraria gente mais qualificada que topasse o funesto papel de coveiro, digo, ministro da economia brasileira. E assim Mailson administrava o que ele mesmo chamava de política “feijão com arroz”. O que significava mais ou menos o seguinte: conter a gastança pública na boca do caixa, administrando o Tesouro Nacional de maneira a adiar ou reduzir ao máximo as (poucas) despesas passíveis de corte ou retardamento; evitar os pacotaços e planos de impacto que nos anos precedentes (em especial, de 1985 a 1987) avacalharam com o setor produtivo sem cumprir o seu objetivo fundamental, que era controlar a inflação; e gastar saliva, tentando convencer a todos de que o gelo estava sendo enxugado da melhor maneira possível.

Hoje, os dois brilham. Sarney, como o todo-poderoso do Congresso. Mailson, como… não, não pode ser… guru econômico!


*Formado em Jornalismo, profissão que nunca exerceu, Bezerra é colaborador bissexto deste site e maluco assumido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário